quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Globalização: Os Guinness e as grandes perguntas deste século

Pof. Dr. Rev. Mauro Meister

Como já apontado em outros textos do blog, o Dr. Os Guinness esteve no III Congresso Internacional de Ética e Religião, no Mackenzie. No dia 11 de setembro, dia bem marcado no calendário mundial por conta dos ataques terroristas ao World Trade Center a ao Pentágono, nos Estados Unidos, o Dr. Os Guinness falou sobre o tema da globalização. Gostei muito da abordagem feita e tomei algumas notas, que depois foram comparadas com outras anotações (especialmente da sra. Betty Portela) e que estão colocadas abaixo. Logo, o que você encontrará aqui é um esboço do que foi falado naquele dia, com alguns ‘enxertos’ explicativos aqui e acolá, em amarelo.

A título de introdução, Os Guinness apontou que “todo século traz suas grandes perguntas”, sendo que as grandes perguntas do século XXI são:

1. O islã vai se modernizar pacificamente?”
O islamismo é crescente e ainda que muitos afirmem que a religião islâmica seja de paz, o radicalismo islâmico tem demonstrado o contrário. Além disto, a cosmovisão islâmica, em geral, insiste em “permanecer no passado” e se recusa a passar pelo processo de modernização.

2. O que substituirá a ideologia marxista na China?
Ainda que o regime chinês seja de ideologia marxista, há muito que o estado e a população da China encontram-se em meio à prática do capitalismo e em busca do mercado de capitais. Não há mais lugar para esta ideologia e resta a grande dúvida sobre o que virá a substituir o marxismo. Há tendências religiosas no pais, inclusive um movimento crescente do cristianismo, assim como de muitas outras religiões.

3. A cultura ocidental recuperará as suas raízes judaico- cristãs?
O ocidente, como o conhecemos, formou-se no berço da cosmovisão judaico-cristã. Vemos, no entanto, que tanto a Europa quanto a América caminham na direção de uma visão de mundo ‘pós-cristã’. O pós-modernismo não deixa lugar para as ‘velhas certezas’ e ensinamentos do cristianismo bíblico e tende cada vez mais a afastar-se dele. Haverá um retorno?

Não há como saber o que vai acontecer. Estas perguntas, no entanto, são geradas dentro do contexto globalizado, que levanta grandes desafios para o cristianismo. O alvo da palestra é apontar quais são os principais desafios levantados pela globalização.

1. Impacto em nosso estilo de vida
As instituições estão se desfazendo, passando por um processo de fluidificação – até pouco tempo, mesmo que com problemas, certas instituições eram sólidas e serviam como base para o desenvolvimento da sociedade e cultura. Com a globalização e o pós-modernismo estas instituições têm perdido o seu lugar sem receber substitutos. Isto representa um grande impacto para o cristianismo.

Exemplo: a fluidificação da instituição do casamento. Em alguns países o número de casamentos desfeitos entre pessoas que se dizem cristãs é igual ou maior do que entre a população não cristã.



2. A globalização traz perigo para elites e não apenas para os pobres



Imagina-se que as populações pobres e sem acesso e educação acabam sendo as únicas afetadas pelo processo de globalização, no entanto, existem grandes perigos para a população elitizada.

Quais são estes perigos?

Quanto à capacidade de reflexão
Vivemos em um ritmo muito rápido, onde há muita informação e pouca sabedoria. Recebemos muito mais informação pelos meios de comunicação do que somos capazes de processar. Uma simples busca no Google gera mais hits do que poderemos ler em toda a nossa vida. Isso gera a facilidade de engano, informação falsa e incapacidade de avaliação de toda esta informação.
Poucos líderes no mundo moderno são capazes de pensar por si mesmos. Os líderes mundiais são guiados por uma rede de assessores, nem mesmo seus discursos públicos são escritos e pensados por eles mesmos! Livros são escritos por ‘ghost writers’.
A moralidade é vivida de acordo com a visibilidade. O mundo globalizado facilita o anonimato. As comunicações e a facilidade de locomoção facilitam vidas duplas.
“ O que fazemos quando ninguém está nos vendo?” / “O que não fazemos porque alguém está nos vendo?”
3. Os pontos cegos da globalização

A globalização significa/implica grandes deslocamentos
A Revolução Industrial modificou a face do mundo com os grandes deslocamentos humanos – a urbanização do mundo ocidental nos mostrou isto claramente – a globalização acelera estes movimentos, o homem encontra-se constantemente diante de novas realidades geradas por estes grandes deslocamentos, verdadeiras massas humanas.
Novo termo—“quarto mundo”—os pobres, os excluídos, os deixados para trás, produzidos pelos grandes deslocamentos.
4. As contradições da própria globalização

No mundo globalizado, o capitalismo foi apresentado como a grande solução, acompanhado da democracia. Várias nações enveredaram por este caminho no pós-guerra. A história tem mostrado que muitos permaneceram no capitalismo, porém, abandonaram a democracia.
A globalização cria o “desperdício humano” – não só criando lixo e a necessidade desesperada de planos de ação para limpar a terra, mas verdadeiro desperdício de gente.
Refugo humano – gente que ninguém quer – o mundo desloca os indesejáveis em suas culturas.
Historicamente a Europa jogou fora o seu refugo nas colonizações (ex. Austrália—prisioneiros)
Hoje temos 25 milhões de pessoas em campos de refugiados. Pessoas sem estado, identidade ou trabalho. Vulnerável aos terroristas, traficantes e todo tipo de corrupção.
5. A tempestade perfeita do mal criada pela globalização

Vivemos a maior crise de direitos humanos de todos os tempos. Ela se dá pelo encontro de três fatores:

A expansão globalizada da liberdade de locomoção cria toda a oportunidade para coisas horríveis como o turismo sexual, trafego de seres humanos, trabalho escravo, pornografia, pedofilia, etc.
Lucro Expansão globalizada do lucro – a facilidade de venda e transferência de valores com possibilidade de anonimato. As diversas formas de crime tornam-se ainda mais fáceis.
Crime globalizado – máfia, drogas
Disfunção – famílias, indivíduos, culturas. Expansão da disfunção globalizada A busca de pertencer (false sense of belonging!)
Tudo isto coopera para que as mais diversas formas de crime cresçam por meio do ‘cidadão comum’.

Conclusão

Como a globalização faz as pessoas pensarem sobre sua fé e vida? Podemos distinguir três campos abrangentes que propõem suas reflexões:

A posição dos ateus e secularistas: continuamos a despeito de...
A posição das religiões orientais: deu tudo errado e a resposta não esta aqui, a solução encontra-se em outro lugar
A posição do pensamento judaico-cristã: onde erramos e como podemos dar um passo para trás para entrar no caminho certo?
As distorções da compreensão judaico-cristã sobre pontos fundamentais como o conceito de mordomia da criação que nos dá o direito de domínio e não de dominação. A grande pergunta é “Em que(m) estamos confiando para conferir significado e esperança no mundo em que vivemos?” De acordo com a fé judaico-cristã Deus é maior do que os problemas e desafios da própria globalização!

Marcadores: globalização, Os Guinness, pós-modernidade

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postado pelo Prof. Luis Cavalcante

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postado pelo Prof. Luis Cavalcante

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