domingo, 11 de janeiro de 2009

O PROFESSOR COMO ESTUDANTE - R. J. Rushdoony

Os melhores professores não são os doutores; muitos doutores vêm a si mesmos como produtos acabados, sem necessidade de crescimento. Em meus próprios dias de estudante na Universidade de Berkeley, era raro um membro da faculdade que continuava seus estudos depois de se tornar professor em tempo integral. Muitos dos professores mais antigos utilizavam planos de aula preparados pela primeira vez durante os anos da Primeira Guerra Mundial, contavam as mesmas anedotas antigas e desgastadas, e estavam muito vagamente familiarizados com as pesquisas mais recentes em seu campo. Haviam deixado de ser estudantes e por isso se tornaram irrelevantes.

Poderia se argumentar que um professor de universidade ou curso necessita crescer, mas um professor de primário ou secundário não. Qual a necessidade de um professor de segundo grau se manter em dia e crescer como estudante?

A aprendizagem implica, entre outras coisas, disciplina, um desejo de aprender e comunicar. Não podemos incutir em outros o desejo de crescer se nós mesmos não o temos. A maioria dos bons mestres regozijasse no estudo. Um professor pode ensinar aos alunos como ler, porém o amor pela leitura vem, ao menos em parte, através de um mestre que tem a leitura em alta estima. Como alguém que sempre gostou de estudar História, posso recordar das grandes diferenças no ensino dessa matéria por parte de meus professores desde a escola primária até a universidade. Com alguns foi um “tédio mortal”; com outros foi uma emocionante descoberta de significado. Além disso, normalmente quanto maior é nosso domínio de uma disciplina, maior é nosso interesse por ela. No banquete anual de uma sociedade médica fiquei estupefato ao descobrir que as esposas de três médicos em minha mesa sabiam muito mais sobre esportes do que a maioria dos homens. Podiam citar estatísticas, lembrar de jogadas e fornecer currículos quase como se fossem repórteres profissionais.

Originalmente todas detestavam completamente esportes. Casando com médicos que tinham muitas emergências noturnas, se voltaram para a televisão e pouco a pouco foram se interessando por esportes, até se converterem em pessoas notavelmente informadas a respeito de várias modalidades. Na medida em que crescia seu conhecimento, seu interesse também cresceu. Da mesma forma, estas três mulheres tinham um conhecimento muito extenso das áreas de especialização médica de seus respectivos maridos e estavam interessadas nas novas idéias de seus campos profissionais.

O professor que não cresce em conhecimento de suas matérias, em sua metodologia e conteúdo, é um professor muito limitado, e seus estudantes são aprendizes “subprivilegiados”. A aprendizagem é em parte uma disciplina. Um professor indisciplinado é um fraco aprendiz e, geralmente, um fraco professor.

Quais são as características de uma pessoa indisciplinada? A pessoa indisciplinada, seja um professor, pastor, dona de casa ou homem de negócios tem, primeiro, uma grande quantidade de trabalho atrasado que nunca termina. É verdade que muitos de nós recebemos uma quantidade tão grande de trabalho que se torna impossível realizá-lo na quantidade de tempo de que dispomos, porém, com a pessoa indisciplinada, mesmo as tarefas básicas ficam por fazer.

Segundo, a pessoa indisciplinada acha suas obrigações desagradáveis porque se sente cada vez mais acossada por um triste sentimento de culpa devido a todas as obrigações não terminadas. Este sentimento de culpa conduz à ansiedade; também atrapalha o repouso, e mesmo que tire férias, o repousa lhe foge. De modo que a vida se acinzenta, e a paz se perde em razão das tarefas por concluir.

Terceiro, uma pessoa indisciplinada acha difícil iniciar uma tarefa. O tempo não é o apropriado, ou é muito pouco, ou se está muito cansado, e o trabalho se posterga. E quando inicia ocorrem todo tipo de pequenas interrupções: apontar os lápis, pegar um copo d’água, e assim por diante, supostamente para facilitar o trabalho, porém, na realidade, tudo isto serve para ir matando o tempo e deixando tudo para depois. Assim o trabalho só é feito no último minuto; ignorando as leituras necessárias, e tudo o mais.

Como podemos evitar este tipo de problema? Ou, melhor ainda, como o criamos? Nosso problema é este: deixamos por último o trabalho que menos nos agrada fazer, e então, já cansados, temos todo tipo de “boas” desculpas para não fazê-lo. A chave para uma boa disciplina de trabalho é fazer primeiro todas aquelas coisas que menos gostamos, ou que não gostamos de modo algum. Porque as faremos de cabeça fresca. Quando asterminamos, estamos livres para fazer as coisas que gostamos. Ao invés de trabalhar com um impertinente sentimento de culpa, trabalhamos em feliz liberdade.

Ademais, trabalhamos com maior eficiência, rendimento e concentração. Outro assunto que precisamos tratar é a comunicação. Em todo ensino, nos comunicamos com nossos estudantes. Um dos perigos de ser mestre ou pregador é que sempre estamos falando. Falar pode ser uma barreira para a aprendizagem e a comunicação, ou o médio mais
importante para elas. Podemos encher nosso discurso com todo tipo de informação que não vem ao caso e passar por cima do fundamental.

Outros tratam de demonstrar seu raciocínio com tantos textos prova e argumentos que ao fim já esquecemos o que era mesmo que se estava querendo provar!

Nosso ensino deve estar bem organizado e sistematizado; se nós mesmos não temos a inclinação por ordenar nosso pensamento, nosso ensino também não o terá. De modo que o verdadeiro professor está sempre disciplinando a si mesmo com vistas a transmitir uma aprendizagem disciplinada a seus alunos.

O professor como estudante é, antes de tudo, um estudante da palavra de Deus. Ser estudante significa avançar e crescer. Um pastor cujos filhos terminaram todos muito mal sempre dedicou um tempo de leitura da Bíblia pela manhã e à tarde antes das refeições. De modo que lia as Escrituras constantemente, na mesa, em seu escritório, e nos cultos. Porém, em sua pregação atual não há mais compreensão do significado de um texto do que havia vinte e cinco anos atrás: ele diz hoje as mesmas coisas que dizia antes, sem nenhum crescimento em seu conhecimento da Escritura. Em poucas palavras, ele lê como um ritual, e sem entendimento.

Também devemos acrescentar que lê sem o Espírito Santo, pois nosso Senhor nos disse muito claramente que o Espírito Santo, acima de todos, é nosso Mestre: “o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas” (João 14:26). Também nos diz que o Espírito Santo é o fundamento de toda verdadeira aprendizagem: “E vós possuís unção que vem do Santo e todos tendes conhecimento” (1
João 2:20). Alguns outros textos que falam do Espírito Santo como mestre são: Quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir. (João 16:13)

Quanto a vós outros, a unção que dele recebestes permanece em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina a respeito de todas as coisas, e é verdadeira, e não é falsa, permanecei nele, como também ela vos ensinou. (1 João 2:27)

Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus nos ouve; aquele que não é da parte de Deus não nos ouve. Nisto conhecemos o espírito da verdade e o espírito do erro. (1 João 4:6) O Espírito Santo é o mestre de “toda verdade”. Somente aqueles que pelo Espírito conhecem a Cristo como Senhor de sua salvação podem conhecê-lo como o Criador, e o Senhor de todas as artes, ciências e da aprendizagem.

Nosso crescimento no ensino requer nosso crescimento por meio do Espírito Santo e debaixo de seu ensino. Devemos nos converter em bons estudantes como passo necessário para chegarmos a ser bons mestres. Nossa profissão recebe grande destaque na Escritura: nosso Senhor foi Mestre, e o Espírito Santo é nosso Mestre contínuo.

Não podemos atender a nosso chamado de forma medíocre, nem entristecer o Espírito Santo abusando de nosso chamado.

Tradução: Márcio Santana Sobrinho
Fonte: The Philosophy of the Christiam Curriculum, p. 132-135.
http://www.monergismo.com/textos/educacao/professor_estudante_Rushdoony.pdf

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