domingo, 11 de janeiro de 2009

LÍNGUAS ESTRANGEIRAS - Dr. R. J. Rushdoony

Os Padrões Básicos de Ohio/EUA nos dão um resumo da filosofia humanista com referência ao estudo de língua estrangeiras:

Aprender uma língua estrangeira na escola primária contribui significativamente para o desenvolvimento dos talentos e interesses potenciais do estudante ao ampliar os conceitos da linguagem e aumentar a habilidade de comunicação. Ajuda a criar um maior apreço pela vida em outros rincões lingüísticos e culturais, dando ao estudante a possibilidade de participar mais efetivamente numa sociedade democrática moderna que mantém extensas relações políticas, econômicas e culturais com povos de muitos idiomas e culturas.1

Essa é uma boa declaração do ponto de vista humanista. O ponto central é o homem e a sociedade. Os idiomas estrangeiros se apresentam como vantajosos a partir de uma perspectiva humanista. Contudo, o estudo de idiomas estrangeiros caiu em importância há alguns anos, e a razão para isso é o desenvolvimento das formas pragmáticas e existenciais de humanismo. O humanista moderno não está interessado no humanismo grego, nem no Iluminismo; o humanismo mais recente foca na atualidade, no aqui e agora. Como resultado, mais e mais jovens simplesmente dizem: “Eu não tenho que obrigatoriamente saber um idioma estrangeiro”. E em termos práticos modernos, geralmente eles estão corretos.

Então, como justificaremos o estudo de línguas estrangeiras? Estudaremos latim porque ser tão importante no desenvolvimento do português? Então temos que dizer que o árabe e o tupi-guarani também merecem estudo, se concordarmos sobre a importância do papel histórico do latim. Estudaremos francês porque foi por muito tempo o idioma da diplomacia e dos assuntos internacionais? Foi assim também com o grego, especialmente quando esteve debaixo do domínio bizantino, por não menos que 80 anos. O alemão é o idioma da erudição, porém não tanto quanto o inglês.

O fundamento humanista que se oferece para valorizar os idiomas enfrenta muitos problemas. Primeiro: a tradição mais antiga e clássica sustentava que certos idiomas estrangeiros eram básicos para a vida da cultura. Este fundamento não é nosso.

Segundo: o humanismo recente foca somente em uma necessidade, que é de caráter contemporâneo, e busca sua justificativa apenas em termos do presente. Porém, existe um terceiro fator. O humanismo enfatiza aqueles idiomas que são mais básicos para a história do humanismo: o grego clássico, o latim, o francês, o alemão, e mais recentemente o russo, o chinês, o inglês e, para alguns, o espanhol. Todos estes idiomas compõem os esforços e os mais caros sonhos humanistas. Um laço religioso os une: a fé humanista.

Embora falando de idiomas estrangeiros, também devemos pensar de maneira religiosa. Isto significa que, em primeiro lugar, devemos dar prioridade aos idiomas bíblicos, o hebraico e grego. A educação americana colonial enfatizava estas duas línguas, e com freqüência ambas eram ensinados a crianças de cinco anos de idade. O ponto mais importante é que os Puritanos estavam educando seus filhos para a vida em uma comunidade cristã debaixo da autoridade de Deus. Eles sentiam, em conseqüência, que o conhecimento mais básico era o da Palavra de Deus, e de cada esfera da vida vista em termos da Palavra de Deus. De modo que o estudo da Escritura era algo básico para toda a educação humana. Para aqueles que tinham mais aptidões, os idiomas bíblicos eram uma necessidade.

O humanismo clássico insistia na necessidade do latim e do grego clássico. O humanismo moderno tende a ver os idiomas estrangeiros de maneira pragmática e geralmente como algo periférico. A educação cristã verá o hebraico e o grego do Novo Testamento como idiomas básicos. É digno de nota que algumas escolas cristãs secundárias estão considerando inserir este ponto.

Segundo: assim como Adão foi chamado para exercer domínio e subjugar a terra (Gn. 1:26-28), assim o homem redimido é enviado a todo o mundo com a mesma comissão debaixo da autoridade de Cristo (MT. 28:18-20). Isto requer que o cristão adquira renome e domínio em todos os âmbitos e que seja um promotor do império de Cristo, afirmando os direitos da coroa ostentados por Cristo, o Rei, em todas as áreas, contra as formas imperialistas, sejam elas nacionalistas ou internacionalistas.

Assim, não deve nos surpreender que o estudo de idiomas estrangeiros nunca foi sequer remotamente igual entre os povos não-cristãos ao que se deu na cristandade. O cristianismo fomentou o estudo dos idiomas estrangeiros por ver sua comissão como necessária para todo o mundo. De modo que interessa aos cristãos não apenas o grego e o hebraico, mas todos os idiomas estrangeiros modernos. As escolas cristãs, em geral, enfatizam o estudo de idiomas estrangeiros mais do que as escolas públicas.

Mas isto não é tudo. O trabalho de maior destaque no campo lingüístico, não comparável com a obra de nenhuma universidade ou centro de pós-graduação, se deu por conta dos Tradutores Bíblicos Wycliffe. Em nenhum outro campo os cristãos se acham mais claramente na vanguarda do que no campo da lingüística. Os cristãos são os únicos internacionalistas verdadeiros, porque seu vínculo com os demais povos se fundamenta no Criador e Redentor de todos.

Terceiro: nossa fé como cristãos é única na ênfase que põe sobre o idioma como o veículo e canal da revelação de Deus, e também porque nos fala da origem dos diversos idiomas na maldição de Babel. Ao longo dos séculos, foi atribuído a vários idiomas o papel de língua dos grandes temas internacionais, porém se deve dizer que nada operou mais pela produção de um idioma único do que a Bíblia. A Bíblia reestrutura todo idioma para o qual é traduzida, e deste modo o aproxima de todos os demais. As formas atuais dos idiomas da cristandade se devem mais a Bíblia do que a qualquer outro fator.

Os idiomas ocidentais, em seu desenvolvimento, experimentaram uma reestruturação teológica, e portanto, são diferentes de outros idiomas justamente por isto. Estes idiomas nos dão como resultado um mundo de pensamento com o qual nos vamos familiarizando: não somos totalmente estranhos para eles, como o seríamos para a língua de um povo não convertido. Toda língua expressa uma experiência e uma tradição teológica. A seu devido tempo, os eruditos cristãos produzirão notáveis estudos em lingüística, desenvolvendo precisamente este aspecto da linguagem.

1 Virignia M. Lloyd, editor: Minimum Standards for Ohio Elementary Schools, p. 45. Columbus, Ohio: Departamento de Educación Del Estado de Ohio, 1970.

Tradução: Márcio Santana Sobrinho

Fonte: The Philosophy of the Christiam Curriculum, p. 85-87.
http://www.monergismo.com/textos/educacao/linguas_estrangeiras_Rushdoony.pdf

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