sexta-feira, 21 de março de 2008

Ainda sobre Darwin...



Ainda sobre Darwin...
Postado por Augustus Nicodemus Lopes às 12:04

A entrevista abaixo foi concedida ao jornal Brasil Presbiteriano. Trata da realização em abril do Simpósio "Darwinismo Hoje," assunto de post anterior nesse blog.

BP: O senhor foi o idealizador do simpósio sobre Darwinismo? De quem partiu a idéia inicial de propor essa discussão no Mackenzie?

AUGUSTUS: "A idéia de propor essa discussão no Mackenzie partiu da Chancelaria mesmo. Ela nasceu da constatação de que sendo a Universidade o lugar apropriado para o debate dos contraditórios, precisamos refletir isto na prática. Mas o que acontece na realidade é que antigos paradigmas acabam por dominar o cenário acadêmico e não abrem espaço para este debate. É o caso com o Darwinismo, que como teoria científica e filosófica mais aceita acaba dominando o pensamento nas várias áreas da Academia, com pouco ou nenhum espaço para que se ouça o que cientistas que esposam outras teorias têm a dizer. Daí, a idéia de um Simpósio onde se possa ouvir o outro lado."

BP: O senhor imagina que, pelo Mackenzie ser uma instituição de caráter confessional, haverá, quanto a isso, alguma polêmica (além da que o assunto do simpósio, por si só, irá gerar)? Algo como o Mackenzie estar realizando um evento dessa natureza para promover o ponto de vista cristão a respeito da criação do mundo e das espécies?

AUGUSTUS: "É possível que surja alguma polêmica. Todavia, o Mackenzie está perfeitamente dentro do seu direito, pois como instituição de ensino superior confessional ela atende a uma ideologia específica, um direito que é garantido pelo Artigo 20 da Lei de Diretrizes e Bases: 'As instituições privadas de ensino se enquadrarão nas seguintes categorias: III - confessionais, assim entendidas as que são instituídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas que atendem a orientação confessional e ideologia específicas'. Esse artigo dá ao Mackenzie o direito de ser uma universidade cristã. Como tal, dentro desse direito, a universidade pode apresentar alternativas ao modelo evolucionista, que por sinal, já anda bem desgastado."

BP: O pouco que sei sobre a Teoria do Design Inteligente é que defende que a natureza foi planejada, projetada, e que se deve empreender uma investigação prática sobre a origem desse projeto ou desse design: se ele é fruto de uma organização proposital, talvez de uma mente criadora, superior, ou fruto do acaso ou de leis naturais. O senhor poderia explicar melhor essa teoria e o que pensa a respeito dela?

AUGUSTUS: "Na verdade, o Design Inteligente não pretende postular uma teoria das origens. Boa parte dos teóricos do Design Inteligente nem religiosos são. O que eles pretendem é chamar a atenção do mundo científico para o fato de que o Darwinismo com sua teoria da evolução das espécies não consegue explicar de maneira satisfatória determinados mecanismos e processos naturais descobertos pela bioquímica e outras ciências. Tais mecanismos, como o motorzinho das células, são por demais completos e complexos, sendo praticamente impossível considerá-los como fruto de um processo evolutivo movido ao acaso. A evidência, segundo os teóricos do Design Inteligente, aponta para um design, um propósito por detrás do desenvolvimento desses processos e mecanismos. Eles não chegam a postular que o designer desse processo é Deus, pois não querem levar o debate para a área religiosa, mas mantê-lo dentro do escopo científico."

BP: Quanto ao darwinismo ou neodarwinismo, como alguns chamam, muitos cristãos tendem a rejeitar essa teoria sem conhecê-la ao menos um pouco, dizendo até que Darwin afirmou que os humanos descendem dos macacos, o que não é exato. Outros, por outro lado, tentam descobrir pontos em que o darwinismo e o criacionismo poderiam se encontrar e não se contradizer, dizendo que talvez a forma como Darwin descreve a evolução das espécies tenha sido a forma como Deus trabalhou na criação do Universo e do homem. O que o senhor pensa sobre o darwinismo e essas formas de muitos cristãos o encararem?

AUGUSTUS: "É verdade que muitos cristãos tomam conhecimento da teoria da evolução através da versão oficial triunfante e sem nenhum questionamento, o que é deplorável. Eu pessoalmente creio que não há problemas em aceitar o que se chama de micro-evolução, ou seja, que os organismos de uma mesma espécie, com o tempo, se adaptaram e se desenvolveram, sobrevivendo os mais aptos por meio de um processo natural de seleção embutido na própria natureza desde a sua criação por Deus. Creio que existe abundante evidência desse fato, que em nada contradiz o pensamento cristão. Não creio que os cristãos tenham problemas quanto à micro-evolução. A dificuldade maior é quanto à macro-evolução, que postula o surgimento de espécies novas a partir de outras, como o surgimento do homem a partir de espécies inferiores. É verdade que Darwin não defendeu diretamente que o homem descende do macaco. Ele não mencionou a evolução humana no “Origem das Espécies”. Todavia, na sua teoria de descendência comum defendida em seu outro livro The Descent of Man [“A Origem do Homem”] Darwin ensina que o homem traz na sua estrutura corporal traços nítidos de sua descendência de formas inferiores. Ele diz que seu objetivo é mostrar que não existe diferença fundamental entre o homem e os animais superiores nas suas faculdades mentais, e que a diferença na mente entre o homem e os animais superiores é de grau, e não de tipo. Logo, Darwin disse, ainda que indiretamente, que o homem descende do macaco.

Muitos têm procurado uma conciliação entre Moisés e Darwin, os chamados evolucionistas teístas, que geralmente consideram Moisés como poesia e mito e Darwin como a expressão correta da realidade. O fato é que existe uma incompatibilidade radical entre os dois. A teoria da seleção natural de Darwin rejeita uma causa sobrenatural para esse processo. Asa Gray, um botânico americano, cristão, foi um dos primeiros a sugerir um “plano divino” dentro da teoria da evolução. Darwin protestou veementemente, numa carta a Lyell. O processo de evolução darwinista é mecanicista e a seleção natural é um processo cego, aleatório, e sem nenhuma intenção. Isso contraria a posição criacionista onde Deus é a fonte e o sustento de toda a sua criação.

Além disso, considerar os capítulos iniciais de Gênesis como lenda e mito cria um problema enorme para os cristãos, pois coloca como mito não somente as origens do mundo e do homem, mas também outros fatos como a queda do homem, tirando as bases históricas e teológicas para a antropologia e a soteriologia bíblicas. Dessa forma, se abre a porta para considerar como mito todo o restante da chamada "pré-história" de Gênesis, que são os capítulos de 1 a 12. Muitos evolucionistas teístas acham que Adão, Abraão, Moisés, etc. são figuras mitológicas, criadas pela imaginação religiosa dos judeus. Na hora que abrirmos a porteira em Gênesis 1-3, ela estará aberta para considerarmos como mito o resto da Bíblia."

BP: Sobre o criacionismo, os que nele acreditam são muitas vezes chamados de ingênuos ou crédulos, pois não há, até onde eu sei, suficientes evidências científicas que o comprovem. Há até entre os cristãos pessoas que defendem que a descrição da criação do mundo e do ser humano em Gênesis é uma figura ou faz parte de uma mitologia encontrada também em outras religiões antigas. O que o senhor acha dessa forma de pensar e qual é sua opinião sobre a origem do mundo e do homem?

AUGUSTUS: "Existem diferentes linhas criacionistas. Entre elas, existe o chamado criacionismo científico que tenta provar cientificamente que o mundo foi criado por Deus conforme relatado em Gênesis 1-2. Todavia, a linha criacionista predominante é que as origens do universo não podem ser descobertas por meio dos métodos empíricos da ciência moderna, e são mais uma questão filosófica e teológica. Dessa forma, os cientistas deveriam se ocupar em entender como o mundo funciona, deixando a questão das origens para filósofos e teólogos. Quanto à existência de relatos da criação do mundo na literatura religiosa de outras religiões, isso pode ser explicado pela necessidade fundamental que o homem tem de buscar as origens; seu espírito idólatra o leva a conceber a criação no âmbito da imaginação mitológica. Ainda que existam centenas de 'mitos da criação', em quase todas as culturas, nenhum se aproxima do relato bíblico. Não há evidência alguma de que Moisés teria copiado relatos babilônicos ou egípcios da criação do mundo, mesmo que vários deles sejam anteriores ao relato mosaico."

Fonte do artigo

Postado pelo Prof. Luis Cavalcante

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